Sequência
Didática - Análise do conto "Negrinha", de Monteiro Lobato
Objetivo(s)
- Saber quem foi Monteiro Lobato: época, obra e
importância para a literatura brasileira.
- Ler e compreender o conto Negrinha, de Monteiro Lobato.
- Perceber e discutir a representação do negro no conto.
- Desenvolver comportamentos leitores.
- Ler e compreender o conto Negrinha, de Monteiro Lobato.
- Perceber e discutir a representação do negro no conto.
- Desenvolver comportamentos leitores.
Ano(s)
6º
7º
8º
9º
Tempo estimado
1 mês
Material necessário
Cópias do conto Negrinha,
de Monteiro Lobato, Ed. Globo.
Desenvolvimento
1ª
ETAPA
Especial
Introdução
Em 1920, Monteiro Lobato
(1882-1948) publicava o conto Negrinha no livro do mesmo nome. Embora distante
três décadas da proclamação da República e da extinção da escravidão, o Brasil
ainda vivia efeitos da transição da Monarquia para a República e do trabalho
escravo para o trabalho livre.
O país, que até então
tinha sua estrutura social baseada no meio rural e a estrutura econômica
dependente da mão de obra escrava, passava por inúmeras transformações. A
indústria começava a se desenvolver e o processo de urbanização avançava. O
Brasil modernizava-se, mas o preconceito racial contra aqueles que tinham a
pele negra ou parda, antigos escravos e seus descendentes, permanecia o mesmo.
Sensível observador,
Lobato denunciou, em momentos de suas obras, a desigualdade entre brancos e
negros, herança do escravismo. O conto Negrinha é um desses momentos. Com
personagens que representam a população brasileira das décadas iniciais do
século XX, Lobato expõe a mentalidade escravocrata que ainda persiste tempos
depois da abolição.
Pesquisa prévia sobre
Monteiro Lobato e o contexto histórico do início do século XX
Prepare-se
cuidadosamente. Seu entusiasmo será decisivo para o envolvimento dos alunos.
Leve imagens de Monteiro Lobato e de cenas do cotidiano de meados do século XIX
e inícios do XX. Os quadros de Debret - Jean Baptiste Debret (1768-1848),
pintor francês que da Missão Artística Francesa que esteve no Brasil em 1816.
Retratou tipos humanos, costumes e paisagens brasileiras. De volta à França,
entre 1843 e 1839, editou o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao
Brasil, ilustrado com litogravuras.
Suas pinturas são de
fácil acesso na internet e excelentes para ilustrar os costumes da época
colonial. Os livros de História do Brasil também serão boas fontes de pesquisa.
Peça a cooperação dos professores de História e Arte. Convide-os para conversar
com a classe sobre o Brasil do final do século XIX e inícios do XX. Para criar
um ambiente inspirador, organize um painel com as imagens. Fale brevemente
sobre Lobato, não sem antes perguntar o que a classe sabe sobre ele. Comente a
importância que tem na nossa literatura. Indague os alunos sobre que obras
desse autor eles já leram ou ouviram falar. Apresente o livro em que está o
conto. Justifique a escolha do texto: Negrinha, pelo viés da literatura,
apresenta um quadro do tratamento que se dava ao negro nos inícios do século
XX.
Ainda nessa aula, divida
a classe em quatro grupos que deverão fazer uma busca dos dados biográficos,
época, obras e importância de Lobato para a literatura brasileira. Cada grupo
ficará responsável por pesquisar cada um desses itens referentes ao escritor.
Em data marcada, cada grupo apresenta para a classe as informações coletadas.
Peça que confeccionem cartazes para orientar a apresentação. Mantenha todo o
material exposto pela sala de aula até a conclusão das atividades com o conto.
É importante que observem
o contexto histórico e imaginem como era a sociedade brasileira nos inícios do
século XX. Indague que fatos marcaram esse período no Brasil. As atividades
anteriores à leitura do texto são importantes para a ativação dos conhecimentos
prévios necessários para a compreensão do conto.
Leitura do conto
Negrinha
Realize a leitura
compartilhada do conto com a classe. Explicite o objetivo da leitura: perceber
o tratamento dado ao negro na época em que se desenvolve a narrativa. Durante a
leitura, proponha questões que auxiliem a compreensão do texto. Mostre que a
época não é exatamente citada, mas que é possível inferir por elementos do
texto: Nascera na senzala, de mãe escrava.
À medida que for lendo,
faça pausas para discutir dúvidas, auxiliando a construção dos sentidos do
texto pelos alunos. Favoreça um ambiente leitor em que os jovens dialoguem o
mais livre possível com o texto.
Peça que, em duplas,
metade da classe faça um levantamento das palavras e expressões que
caracterizam a Negrinha, desde a ausência de nome próprio até idade, origem,
aspecto físico, olhos, as marcas do corpo, temperamento, onde vivia, com quem
vivia etc. A outra metade faz o mesmo com a personagem dona Inácia. As
descrições das personagens são carregadas de emoção. Sua compreensão ajuda o
leitor a continuar a construir sentidos para o texto. O conto também é repleto
de ironias - ironia é uma figura de linguagem que ocorre quando se diz alguma
coisa, querendo-se dizer exatamente o contrário. Ajude a turma a percebê-las.
Por exemplo:
Que ideia faria de si
essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo,
coruja, barata descascada, [...] - não tinha conta o número de apelidos com que
a mimoseavam.
Explique aos alunos que o
emprego de "mimoseavam" é ironia porque atribuir nomes depreciativos
a uma pessoa não é uma forma de mimoseá-la, isto é, agradá-la. É exatamente o
contrário. Será também importante discutir os conceitos presentes no texto,
como: crueldade, cinismo, hipocrisia, piedade, gratidão. Oriente para que
percebam as passagens em que tais conceitos são evidenciados.
Avance na reflexão. Os tipos de
castigos físicos aplicados na menina negra parecem ser herança do escravismo.
Chame a atenção para a descrição detalhada deles. Selecione no painel imagens
em que apareçam escravos sendo castigados. Diga para a classe que observe se há
semelhança com os castigos sofridos pela Negrinha. Peça que evidenciem o
tratamento desigual dispensado à menina negra e às meninas louras, sobrinhas de
dona Inácia. Auxilie na reflexão sobre os contornos que o texto vai adquirindo:
que trechos mostram o que o narrador pensa da importância do brincar para uma
criança? O que aconteceu com a menina negra depois que brincou com a boneca de
louça? Por qual transformação ela passou?
Explore a frase: Brincara!... Construída
apenas com uma palavra, a frase é carregada de significação. Peça a comparação
entre: Brincou!... e Brincava!... No uso de
pretéritos diferentes, que mudanças de sentido aconteceriam ao texto? Comente
também o uso da pontuação expressiva da exclamação e das reticências. Que
efeito de sentido provoca no texto? O desfecho com a morte da menina negra,
depois de ter experimentado pela primeira vez o sentimento da alegria, sugere a
seguinte reflexão: aqueles que sofreram maus tratos não têm salvação? Está
determinado que serão infelizes para sempre? Favoreça um espaço democrático de
discussão, em que os alunos dialoguem livremente com as ideias do texto. Não há
resposta certa. O importante é o debate, a circulação de pontos de vista.
Desdobramentos
Proponha
atividades que ajudem os alunos a aprofundar sua compreensão da obra. Sugestões
de atividades:
- elaboração, em duplas,
de uma narrativa, recontando a história da Negrinha, em primeira pessoa, sob o
ponto de vista da menina, uma criança de sete anos;
- comparação entre Negrinha e os contos de Machado de Assis: O Caso da Vara e Pai Contra Mãe. O primeiro apresenta muitas semelhanças com Negrinha: as personagens principais são mulheres viúvas, bordadeiras, que vivem rodeadas de "crias". São autoritárias e capazes de atos cruéis contra crianças. Em ambos também fazem parte do enredo personagens meninas, Lucrecia e Negrinha, respectivamente. A descrição delas é semelhante
- comparação entre Negrinha e os contos de Machado de Assis: O Caso da Vara e Pai Contra Mãe. O primeiro apresenta muitas semelhanças com Negrinha: as personagens principais são mulheres viúvas, bordadeiras, que vivem rodeadas de "crias". São autoritárias e capazes de atos cruéis contra crianças. Em ambos também fazem parte do enredo personagens meninas, Lucrecia e Negrinha, respectivamente. A descrição delas é semelhante
Damião olhou para a
pequena: (Lucrecia) era uma negrinha, magricela, um frangalho de nada, com uma
cicatriz na testa e uma queimadura na mão esquerda. Contava onze anos.
Negrinha era uma pobre
órfã de sete anos. [...] Assim cresceu Negrinha - magra, atrofiada [...] O
corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões.
O conto Pai
Contra Mãe ambienta-se no Rio de Janeiro do século XIX, antes da
abolição da escravatura. Narrado em 3ª pessoa, é um dos contos em que o autor
apresenta a escravidão da maneira mais impressionante e brutal.
- comparação entre o
tratamento dado à criança no conto Negrinha e os princípios 3º
e 7º da Declaração dos Direitos da Criança e o Adolescente: 7º Princípio -
[...] A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os
propósitos mesmos da sua educação [...] 3º Princípio - Toda criança tem direito
a um nome e a uma nacionalidade. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8069,
de 13 de julho de 1990 http://www.planalto.gov.br
- Debate sobre a frase do
conto Negrinha: Varia a pele, a condição, mas a alma da
criança é a mesma - na princesinha e na mendiga.
- o conto pode ser um ponto de partida para a discussão do bullying, dentro e fora da escola.
- o conto pode ser um ponto de partida para a discussão do bullying, dentro e fora da escola.
Avaliação
Proponha a elaboração, em
duplas, de uma síntese da discussão provocada pela leitura e análise do
conto Negrinha. Peça, ainda, que cada aluno escolha um trecho do
conto de que tenha gostado, que o copie caprichosamente numa tira de papel.
Embaixo da cópia, escreva uma justificativa para a escolha. Depois, cada aluno
lê para os colegas o trecho escolhido e os motivos da escolha. Em seguida,
afixa a tira no mural. Ali estará uma síntese das impressões da classe diante
do texto. Com essas atividades você poderá avaliar se os objetivos propostos
para o trabalho - isto é, perceber e discutir a representação do negro no conto
- foram alcançados.
Graduanda: Eliana Lomes OBS.:Trabalhei este conto nos 8º e 9º
Anos, com algumas adaptações, claro! Foi perfeito o resultado!!!
Produzido por Nova Escola Clube
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